Uma breve avaliação dos períodos históricos em que as forças democráticas e populares brasileiras adotaram políticas de frente ampla revela, de cara, um saldo bastante positivo no que se refere às conquistas e aos avanços obtidos. Mas, como o olho no retrovisor do passado é fundamental para trilhar com firmeza o caminho do presente e projetar os rumos do futuro, cabe estabelecer uma diferença crucial entre as conjunturas que potencialmente podem levar à constituição de frentes.
É que o grau de complexidade para a formação dessas frentes políticas varia de acordo com a conjuntura, o estágio das lutas progressistas e a correlação de forças. Explico: o nível de complexidade exigido para a atuação em frentes diante de adversários explícitos e com grande poder de fogo é relativamente baixo se comparado com os momentos históricos em que somos chamados a buscar a unidade e as frentes em nome de projetos estratégicos.
Senão vejamos: foi até certo ponto natural a estruturação de frentes para enfrentar a ditadura militar, lutar pelas Diretas e enfrentar a onda neoliberal que varreu o mundo nos anos 80/90. Porém, para fazer avançar os nossos projetos políticos, o nível de complexidade é maior, uma vez que precisam ser enfrentados e superados um sem número de obstáculos. Aqui, torna-se desnecessário detalhar as dificuldades para se reunir no mesmo front interesses difusos e múltiplas visões políticas.
Não podemos cometer o erro infantil de menosprezar o poderio da velha elite brasileira. A vitória de quem representa a continuidade de um governo democrático-popular firmará a convicção de que, desde 2002, o povo brasileiro optou por um determinado projeto político. Caso contrário, a classe dominante tentará construir a versão histórica de que, num mero acaso, fomos beneficiados pela combinação de dois fatores: um líder carismático e extremamente popular e uma certa distração deles, os poderosos.
Definitivamente, atuar em frente não significa ocultar, esquecer ou abrir mão das diferenças e divergências. Muito pelo contrário, a partir das diferenças, podemos afirmar a unidade e valorizar as convergências, com tolerância, respeito e compreensão clara dos desafios.
Assim, com certeza, contribuiremos para impedir o retrocesso e avançar nas conquistas, com soberania e ampliação de direitos. Sempre tendo no horizonte uma nova sociedade, que valorize o trabalho, estimule e pratique a solidariedade e elimine os preconceitos. Uma sociedade que tenha o ser humano como grande referência. Uma sociedade socialista.
Adeilson Telles, membro da Executiva Nacional da CUT