Pouco mais de 90 dias nos separam do momento de digitar na urna os nomes de nossos candidatos. Até o momento a cobertura da campanha é composta por repetidas arrancadas e bruscas freadas. A repetição fica por conta da forma como a grande imprensa retrata a candidata Dilma Rousseff: poste, sem luz própria, inexperiente, novata em campanhas, sem carisma, marionete sem corda, caminhão sem caçamba, paraquedista no mundo da política, caronista, viajante de garupa e por aí vai. Não é raro conferir que o ataque de seu principal adversário reverbere, com insistência, nas colunas de analistas políticos. O inverso é também verdade: raciocínio de jornalista exposto em texto escrito é logo encampado por adversários ansiosos por apresentar “marcas” discursivas.
As bruscas freadas são representadas pelo interesse da grande imprensa em minimizar os revezes por que passa a candidatura José Serra. Numa semana realimenta a especulação sobre Aécio Neves como vice em sua chapa, noutra minimiza escolher agora ou não o nome do vice. Fato é que nas últimas horas o petebista Roberto Jefferson foi escolhido para anunciar, de forma atabalhoada como sempre, a escolha do senador Álvaro Dias para compor a chapa demotucana.
PESQUISAS ESTRANHAS – À exceção de CartaCapital, veículos de mídia impressa com maior tiragem no País parecem disputar campeonato para ver quem lança maior número de cascas de banana no caminho da primeira mulher com chance real de ser presidente do Brasil. E é exceção porque a revista de Mino Carta declara de forma clara, transparente, quem apoia na corrida pelo Planalto.
Uma imprensa tão dada a se espelhar no modelo de jornalismo americano bem que poderia, já com bastante atraso, passar a seguir um de seus princípios basilares: declarar-se neutro (embora saibamos ser isso mais retórica que prática) ou então, assumir abertamente suas preferências.
Para seguir as regras do campeonato há que se criar fatos e, então, conceda-se a estes ares de normalidade. Não faz muito e observamos que, visando desmerecer o passado de Dilma Rousseff em sua luta contra a ditadura militar que abocanhou o Brasil em 1964, fichas foram publicadas pela Folha de S. Paulo. Fichas aparentando a legitimidade de nota de 3 reais. E não ficou nisso. O jornal disseminou a infeliz ideia de que a “nossa” ditadura militar, afinal, não foi tão cruel assim. E chamou-a de “ditabranda”.
No roteiro tivemos ainda que aturar o alarido desmedido sobre a existência ou não de encontro da então ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República com a então mandachuva da Receita Federal. Espuma demais, leite de menos. Capítulo especial deve ser dedicado à realização e à divulgação de pesquisas eleitorais. Algumas soam, no mínimo, estranhas. São divulgadas com raro senso de oportunidade e apenas servem como escada para realçar um dentre os vários concorrentes à Presidência da República. Como poderíamos ficar indiferentes a análises desta natureza? Tudo isso ocorre em meio à recorrente autolouvação da grande imprensa reafirmando inúmeras vezes que praticam nada menos que “jornalismo imparcial, isento, apartidário, equânime”. Mas, como diria o cacique dos Ticunas: “We are not bobos”. No mais, o que temos mesmo é apenas mais daquele velho festival de ideias prontas e com prazo de validade há muito vencido.
Washington Araújo – jornalista do Observatório da Imprensa