Lula, Obama e a mídia golpista

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Em recente entrevista ao diário O Globo, Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e diretora executiva do Grupo Folha, escancarou o jogo: “obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está profundamente fragilizada”. A confissão descarada só confirma o que muitos já sabiam. A mídia hegemônica é hoje a principal força da oposição de direita, neoliberal e conservadora, do Brasil.


Como alertou o intelectual italiano Antonio Gramsci, ainda na década de 20 no seu “Cadernos do cárcere”, quando as instituições das elites dominantes estão em crise, a imprensa burguesa ocupa o papel de “partido do capital”. Só os ingênuos ainda acreditavam na neutralidade da mídia, o que a presidente da ANJ agora confessa que nunca existiu nem existirá.


Diante desta confissão do crime, qual reação esperar do presidente Lula, cujo ouvido vai virar penico neste ano de cruel guerra sucessória? Até hoje o principal mandatário do País, eleito por milhões de brasileiros e gozando de popularidade recorde, sempre agiu com tolerância diante das “posições oposicionistas” da mídia.


Num editorial recente, intitulado “devaneio autocrático”, o jornal Folha de S.Paulo – o mesmo da “ditabranda”, da fraudulenta ficha policial de Dilma Rousseff e dos ataques rancorosos à moral do presidente – rotulou o governo Lula de autoritário. Sugeriu que a luta contra a censura fosse uma das principais bandeiras da oposição de direita. Uma lista com sete conflitos com a mídia – em longos seis anos de mandato – foi apresentada como prova do autoritarismo. Pura choradeira de quem promove milhares de crimes editoriais sem ser processado ou molestado.


Apesar deste jogo sujo, o presidente Lula mantém a calma. Nem mesmo as emissoras da rádio e televisão – que são concessionárias públicas e deviam respeitar a Constituição e as leis – são alvo de represália. Elas ainda são palanques eletrônicos para âncoras e comentaristas desclassificados, como Boris Casoy, Arnaldo Jabor, Miriam Leitão e outros direitistas convictos. No caso dos jornais e revistas, que não são concessões públicas, o presidente ainda tem a paciência de dar entrevistas que parecem pugilato.


No máximo, o conciliador Lula apenas lastima “as posições oposicionistas” da mídia. Há poucos dias, ele rotulou os jornais de “tablóides” que não enxergam a realidade. Estas suaves alfinetas irritam os barões da mídia, que demonizam seus adversários, destroem suas reputações, mas não aceitam críticas.


Não dá para esperar uma mudança de atitude do presidente diante das “posições oposicionistas” da mídia. Uma das marcas mais fortes do governo Lula é a da conciliação.


No mínimo, porém, o presidente Lula poderia se precaver diante das baixarias da imprensa neste ano de batalha sucessória. Poderia por um freio de arrumação, evitando o pior nas eleições. Uma atitude um pouco mais ousada limitaria as “posições oposicionistas” – na verdade, golpistas – da mídia. Já que não adotará o caminho “radical” de Hugo Chávez, Evo Morales ou Rafael Correa, ele poderia seguir o exemplo do seu amigo, Barack Obama. No final do ano passado, o presidente dos EUA simplesmente se recusou a dar entrevistas à poderosa Fox News, do magnata Rupert Murdoch. Annita Dunn, diretora de comunicação da Casa Branca, explicitou o motivo: “A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, e não precisamos fingir que o modo como ela trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico”.

Altamiro Borges, jornalista