É necessário regrar o home office para garantir direitos

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Entre os anos 2012/2013, as empresas do ramo financeiro no Brasil começaram a promover inúmeras mudanças nos seus modelos organizacionais. Foi uma onda de reestruturação produtiva fortemente ancorada nas novas tecnologias. Anualmente, os investimentos dos bancos em tecnologia da informação giram na ordem de R$ 25 bilhões (14% do total dos investimentos em tecnologia no Brasil).

Com a decretação da pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial de Saúde, o que já era uma tendência nos bancos, o home office, tornou-se quase uma regra. Milhares de trabalhadores passaram a trabalhar de suas casas com um simples objetivo: salvar vidas. Entretanto, mesmo depois que a pandemia passar, essa tendência deve permanecer. Com isso, os bancos têm reduzido cada vez mais suas despesas como aluguéis, energia, transporte, processamento de dados, serviços de terceiros, manutenção e conservação de bens, entre outros. E uma das consequências de todo esse processo foi o fechamento de mais de 3.000 agências bancárias no país desde 2013. Para completar, entre 2013 e 2019, os bancos fecharam mais de 70 mil postos de trabalho.

Por sua vez, o home office, tão necessário durante a pandemia, criou novas demandas e dificuldades para o trabalhador: inadequação do ambiente da residência para a realização do trabalho, falta de mobiliário e equipamentos adequados, surgimento de novos problemas de saúde, elevação dos custos residenciais, falta de controle da jornada, entre outros. Dessa forma, o movimento sindical, em parceria com o Dieese, realizou uma pesquisa com a categoria bancária para identificar as principais dificuldades e anseios dos trabalhadores e assim, poder negociar com os bancos um ambiente de trabalho adequado às atuais necessidades.

A pesquisa foi realizada remotamente entre os dias 1º e 12/7, com amplo engajamento dos sindicatos em todo o país, o que possibilitou a obtenção de mais de 11 mil respostas dos trabalhadores: 98% responderam que estavam trabalhando em home office devido à pandemia e 44,8% afirmaram trabalhar em suas salas. A maior dificuldade apontada pelos bancários foi referente à falta de equipamentos e mobiliários adequados.

O fato de o trabalho da categoria bancária em home office ter sido implementado às pressas, em função da pandemia, gerou uma ausência de regras gerais sobre essa modalidade. Cerca de 32% dos trabalhadores afirmou não ter recebido nenhum tipo de equipamento do banco, inicialmente.

Com todas essas informações nas mãos, procuramos negociar durante a nossa Campanha Nacional 2020 a regulamentação do trabalho em home office. Procuramos deixar claro para os bancos que o home office não é um prêmio para o trabalhador e que não é por trabalhar em casa que este deve arcar com todas as despesas e necessidades do trabalho home office. Entretanto, não chegamos a um acordo geral durante a campanha por falta de consenso entre os bancos, mas garantimos a negociação banco a banco, que estamos fazendo atualmente.

Já conquistamos acordos em várias instituições financeiras, aprovados pelos trabalhadores em assembleias virtuais, garantindo direitos e até ajuda de custo, justa e necessária. Regramento equilibrado e respeito aos direitos é o que estamos buscando nesses acordos e, até agora, temos alcançado nossos objetivos. Estamos sempre #NaLutaComVocê.

Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará

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