Artigo: O que o atentado na escola de Suzano tem a nos ensinar

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Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará

Quando vemos nos noticiários que dois jovens, um de 17 e outro de 25 anos, mataram oito pessoas dentro de uma escola e depois cometeram suicídio, isso nos choca imensamente. Primeiro porque a grande maioria de nós somos pais/mães. Segundo porque, até bem pouco tempo atrás, atentados como esse nos remetiam a uma realidade distante em escolas dos Estados Unidos ou apenas em filmes.  Por isso, é muito importante fazermos já uma reflexão profunda sobre os acontecimentos do dia 13/3, em Suzano (SP). A tragédia chega como um alerta: estamos no caminho certo?

Nos últimos anos avançamos muito rapidamente para a radicalização de pensamentos, para a banalização da violência, para o culto às armas e para a agressão como única forma de resolução de conflitos e divergências. Incentivados por um discurso de ódio irresponsável, armamentista, proferido por pessoas que, infelizmente hoje, ocupam espaços de poder.

Em 2016, 43,2 mil pessoas foram mortas por armas de fogo no Brasil, número que colocou o país no primeiro lugar na última edição do ranking mundial de mortalidade por armas publicado pelo Global Burden Disease, órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos Estados Unidos, segundo colocado no ranking (pasmem!), as armas mataram 37,2 mil pessoas no mesmo período. Somados, Brasil, EUA, México, Colômbia, Venezuela e Guatemala são responsáveis por mais da metade (50,5%) dos assassinatos em todo o mundo.

Analisando esses números alarmantes, podemos concluir que mais armas realmente não é a solução. No Brasil, o número de mortes por armas de fogo aumentou muito desde 1990, indo de uma estimativa de 27,3 mil para os 43,2 mil registrados em 2016. Porém, após uma explosão de mortalidade até meados dos anos 2000, houve redução no índice, que se manteve estável desde o Estatuto do Desarmamento, que a ultradireita tanto critica.

A política armamentista voltou ao foco do noticiário após o presidente Jair Bolsonaro, em 15 de janeiro, assinar decreto flexibilizando a posse de armas. Ao estabelecer como critério para a posse de armas a residência em estados com índices anuais de mais de dez homicídios por cem mil habitantes, segundo dados de 2016 apresentados no Atlas da Violência 2018, o decreto na prática facilita a posse de armas de fogo em todo o território nacional. E quanto mais armas, mais crimes.

Analisando a tragédia por outro ângulo, precisamos olhar mais para as nossas crianças e principalmente, cobrar do poder público mais segurança nas escolas. O momento posterior ao massacre precisa vir acompanhado também de um projeto pedagógico tanto para o entendimento do bullying como da evasão escolar e da necessidade de mais investimentos na educação.

Por fim, nos solidarizamos com as famílias dos estudantes mortos e feridos em Suzano, assim como com toda a comunidade da escola estadual Professor Raul Brasil. Uma tragédia como essa nos faz questionar a nossa própria condição humana: se estamos avançando ou regredindo enquanto sociedade.

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