Combate ao adoecimento na Caixa é debatido por especialistas

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Debater a necessidade urgente do estabelecimento, de uma política de prevenção de adoecimento físico e mental na Caixa Econômica Federal é um dos objetivos do 1º Seminário sobre Saúde Mental dos Trabalhadores da Caixa. Realizado pela Fenae, nesta quarta-feira (25), em Brasília (DF), o evento reúne empregados do banco, representantes de sindicatos, Apcefs, do Conselho de Usuários do Saúde Caixa e do GT Saúde do Trabalhador.


Sujeitos a sobrecarga e a um modelo de gestão que estimula a pressão por produtividade e o assédio moral, transtornos psicológicos e emocionais se tornaram problemas cada vez mais comuns entre os trabalhadores.


Na abertura do seminário, o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, defendeu que a saúde do trabalhador tem que ser uma pauta perene do movimento sindical e associativo. “Precisamos envolver todas as entidades e representações dos trabalhadores, para juntos construirmos ferramentas para combater esse grave problema. Essa luta tem de ser de todos nós”, reforçou o dirigente.


Na Caixa, conforme Jair Ferreira, o modelo de gestão propicia o adoecimento da categoria. Redução do número de empregados, reestruturação e metas abusivas são apontados como alguns dos fatores que precarizam as condições de trabalho. “Em 2014, tínhamos 4 mil agências e 101 mil empregados concursados. O volume de trabalho aumentou de lá pra cá e nós perdemos 19 mil vagas de trabalho. O risco de privatização é outro problema que afeta os trabalhadores. É preciso mudar esta política de gestão da direção da Caixa, que não respeita os trabalhadores e deixam as pessoas doentes”, disse o presidente da Fenae.


O presidente do Conselho Deliberativo Nacional (CDN) da Fenae, Paulo Moretti, lembrou que o adoecimento afeta não só os trabalhadores que estão atuando na Caixa, mas também os aposentados. “As condições do trabalhador que está nas unidades e dos aposentados são cada vez mais preocupantes. Estão sofrendo com problemas de saúde mental”.


Para diretora de Relações do Trabalho da Fenae, Rita Lima, a realização do seminário revela o compromisso da entidade com a defesa da saúde e sobretudo a qualidade de vida dos trabalhadores da Caixa. “Temos assistido quase a uma epidemia de transtornos e adoecimentos na empresa”, alertou.

Fabiana Uehara, secretária da Cultura e representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), na Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa), disse que o debate é fundamental para gerar subsídios visando a mobilização dos trabalhadores e das entidades sindicais contra a precarização das condições de trabalho, o assédio moral e outras formas de pressão sobre os empregados.


Pesquisa


Os números apontados por uma pesquisa, encomendada pela Fenae em 2018, confirmam o que o movimento dos trabalhadores já denunciava, que era o aumento dos transtornos psíquicos e outros graves problemas de saúde entre os empregados da Caixa.


Os dados do estudo foram apresentados pela diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus, durante o seminário. Conforme ela, um em cada três empregados da Caixa, ouvidos no período de 2 a 30 de maio, diz ter apresentado algum problema de saúde em decorrência do trabalho.


Entre os que tiveram algum problema, 10,6% relataram depressão. Doenças causadas por estresse e doenças psicológicas representam 60,5% dos casos. Entre os que tiveram problemas, 53% precisaram recorrer a algum medicamento. Os remédios mais usados foram os antidepressivos e ansiolíticos (35,3%), anti-inflamatórios (14,3%) e analgésicos (7,6%).


“Isso revela o quanto o modelo de gestão do banco, a sobrecarga de trabalho e a ausência de uma política de saúde do trabalhador estão prejudicando a vida de milhares de pessoas e provocando um verdadeiro quadro de adoecimento crônico na categoria”, ressaltou Fabiana Matheus. A diretora de Saúde e Previdência da Fenae informou que um novo estudo deve ser realizado em novembro para avaliar a saúde dos trabalhadores da Caixa.


Debate



Painéis sobre saúde do trabalhador e assédio moral marcaram o início dos debates no I Seminário Saúde Mental dos Trabalhadores da Caixa. A pesquisadora no campo da saúde do trabalhador, Cristiane Queiroz, fez um panorama sobre a organização do trabalho e como ela tem interferido na vida dos indivíduos.


Segundo ela, o foco da Saúde no Trabalho deve estar direcionado dentre outros objetivos na manutenção e promoção da saúde dos trabalhadores e de sua capacidade de trabalho, e o melhoramento das condições de trabalho, para que elas sejam compatíveis com a saúde e a segurança. “Precisamos falar sobre adoecimento e priorizar na pauta a questão da saúde do trabalhador”.


O professor da Universidade de São Carlos (UFScar), Eduardo Pinto e Silva, falou sobre assédio moral e as “novas” ferramentas de gestão do trabalho. Segundo ele, o processo de precarização do trabalho atinge todas as categorias profissionais.


“Estão estraçalhando com a subjetividade do trabalhador. É preciso dar um basta a essa demolição da criatividade do trabalho”, argumentou. Eduardo Pinto disse que o assédio moral precisa ser visto como fenômeno social e organizacional e que está institucionalizado no modelo de gestão das empresas que precisa ser revisto.