A segunda-feira 6 foi marcada por protestos de estudantes de instituições federais de ensino contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Os protestos aconteceram no Rio de Janeiro e na Bahia.
No Rio, a manifestação ocorreu em frente ao Colégio Militar (CMRJ), no bairro do Maracanã, zona norte da cidade, onde o presidente visitou o local para lançar um selo e uma medalha que comemora os 130 anos do CMRJ. Na Bahia, o grupo se concentrou, primeiro, na Faculdade de Educação da UFBA, no Vale do Canela, por volta das 9h. Depois, a passeata teve início e seguiu pela Avenida Reitor Miguel Calmon, uma das mais movimentadas de Salvador e finalizou em frente ao prédio da reitoria da universidade.
Os protestos contra os cortes na educação foram inicialmente convocados por estudantes e devem contar com a adesão de integrantes de instituições universitárias nos proximos dias.
“A população e a juventude brasileira acabam de sofrer um golpe fatal à democracia”, dizem os estudantes, em manifesto, contra o bloqueio de verbas de proporções “estratosféricas” anunciadas pelo governo Bolsonaro. “Não vai ter corte, vai ter luta”, “Uh, sai do chão quem defende a educação”, gritavam centenas de estudantes na porta do CMRJ. Além dos alunos, pais e professores também protestam. Durante a manhã, a hashtag #EuDefendoOCPII, referente ao Colégio Pedro II, era uma das mais comentadas do Twitter.
Corte na verba
Eles protestam contra os anúncios pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que anunciou bloqueio de 30% dos recursos de universidades que praticam “balburdia”, segundo ele, tendo as de Brasília (UnB), da Bahia (UFBA) e Fluminense (UFF) como primeiros alvos.
Acusado de perseguir ideologicamente essas instituições, o governo então universalizou o corte para todas as universidades, com a justificativa de que os recursos seriam revertidos para a educação básica, mas os cortes atingiram todos os níveis.
No Pedro II, por exemplo, os diretores informam que os cortes somam R$ 18,57 milhões, alcançando 36,37% do seu orçamento de custeio. Na UFRJ, a “obstrução orçamentária” atinge R$ 114 milhões, correspondente a 41% das verbas destinadas à manutenção da instituição.
O filósofo Vladimir Safatle, em entrevista ao site Tutaméia, destaca que essa política de corte está relacionada com o temor de que haja uma revolução futura e, nesse momento, o Bolsonaro sabe que os jovens são os mais preparados para isso.
“Porque uma boa parcela da juventude brasileira foi formada dentro dos processos de ocupação de escolas, dentro dessa nova sensibilidade que permite uma maior compreensão das questões de sujeição, de submissão social. É uma juventude potencialmente revolucionária. Por isso, ela é atacada. Por isso, Bolsonaro fala que não quer mais política na escola”, observa o filósofo.
“Os ataques à educação no Brasil é um projeto de longo prazo, quando o presidente fala em combater uma ideologia no ensino ele está na verdade combatendo quem é contrário à ele, não é possível falar em democracia sem que exista a divergência. A educação só é livre e libertadora quando o aluno tem acesso à todas as linhas de pensamento. A decisão de qual escolher é individual”, afirma Lucimara Malaquias, vice-presidente de Juventude da Uni Américas.
Perfil dos estudantes de Ensino Superior
Prévia da pesquisa que está sendo realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que mais da metade dos alunos das instituições federais são de baixa renda e pertencem a famílias que ganham menos do que um salário mínimo per capita por mês.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o Brasil encontra-se nas últimas posições em termos de investimentos por aluno no ensino superior, dentre 39 países pesquisados. Ainda assim, o sistema de ensino superior registrou crescimento nas últimas décadas – como observa em artigo na RBA o economista Marcio Pochmann.