ENTREVISTA: Caixa, mais do que nunca o valioso, e ameaçado, banco dos brasileiros

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Novamente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a privatização da Caixa – desta vez, com a abertura de capital (IPO) do braço digital do banco “nos próximos seis meses”. No mesmo período, a instituição aprovou a criação de subsidiária da Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), segundo explica nessa entrevista a representante dos trabalhadores do banco no Conselho de Administração, Rita Serrano. Pesquisas realizadas pela própria Caixa, pela revista Exame/Instituto Ideia e pela BrandZ (melhores marcas) reafirmam a importância do banco público para a sociedade brasileira, a discordância da sociedade com sua privatização e associam à marca um sinônimo de acesso democrático ao sistema financeiro. Confira a entrevista divulgada pela Fenae:


Por que a abertura de IPO de um braço digital da Caixa indica nova tentativa de privatização?

Rita Serrano – Com o pagamento do auxílio emergencial, do saque do FGTS, entre outros, a Caixa deverá atingir a marca de 100 milhões de contas digitais. Algo que foi feito de forma abrupta, mas revelou o esforço e expertise dos empregados da Caixa. Com isso ela se tornou um dos maiores bancos digitais do mundo. Ainda mais valiosa e fundamental para os brasileiros. Mas o ministro prefere abrir o capital, fazer o IPO, criar subsidiárias e, assim privatizar por segmentos, até que a Caixa deixe de ser o que é: um banco público rentável, competitivo e a serviço dos brasileiros. A criação de subsidiárias é uma forma de burlar a lei que impede a privatização do banco sem aprovação do Congresso Nacional, e está acontecendo também em outras empresas públicas. Seria o caminho para seu fim.


Houve nova mudança no estatuto da Caixa. O risco de a empresa se tornar S.A. se mantém?

Rita Serrano – Mais uma vez conseguimos nos distanciar deste risco. Obviamente votei contra essa tentativa todas as vezes em que foi colocada, e isso representa uma luta que vem de longe, desde quando iniciamos, no Congresso Nacional, o combate ao projeto de lei 555, o chamado Estatuto das Estatais. No entanto, no âmbito do CA, como representante dos empregados, também propus recentemente que se retirasse do estatuto questões trabalhistas como o Saúde Caixa e a PLR que, entendo, devem ser discutidas em outros fóruns; sua manutenção indica cerceamento da garantia de livre negociação. Mas infelizmente, novamente fui voto vencido.


A pandemia tem mostrado a importância de empresas e serviços públicos para as sociedades. A Caixa é claro exemplo, com milhões passando por ela para poder receber auxílio e milhares de empregados se desdobrando para o atendimento. A população tem essa percepção?

Rita Serrano – Eu acredito que sim. É preciso lembrar que a Caixa sempre foi um banco bem lembrado pelos brasileiros. No Senado, por conta da MP 995, que permite privatizar o banco com a criação de subsidiárias, a realização de enquete no portal do Senado na internet mostrou grande rejeição à privatização. A visão da maior parte dos que são ouvidos sobre o tema é de que esta medida provisória desrespeita não apenas a Constituição Federal, mas também o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).


E nesses tempos de pandemia, o que esses resultados têm a dizer?

Rita Serrano – Ser considerado o banco para todos os perfis e rendas mostra o acesso democrático que só um banco público pode proporcionar, e isso antes mesmo da criação das contas digitais. Com a pandemia, então, isso fica muito, muito mais evidente. Como é evidente a necessidade para o Brasil da manutenção e ampliação desse papel desempenhado pelo Caixa de principal gestora dos programas sociais e dos investimentos em desenvolvimento. Um patrimônio valioso, ativo, e que não pode passar para as mãos de bancos ou empresas privadas. A Caixa é de todos nós, brasileiros, e defendê-la também deve ser uma missão para todos.

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