Trabalho bancário, adoecimento e suicídio

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O trabalho adquiriu um lugar central na vida das pessoas, ocupando várias funções, tais como sobrevivência, identidade e reconhecimento social. Hoje as pessoas passam mais tempo no trabalho do que com a familia. Quando o trabalho adquire uma característica de tensão, ele pode ser um fato predisponente ao sofrimento psíquico.


No caso dos bancários, as sucessivas mudanças no trabalho, consolidadas com a incorporação das novas tecnologias, a automação dos processos, a terceirização e a implantação de práticas de gestão neoliberais intensificaram o sofrimento e afetaram de forma nociva a saúde dos trabalhadores dessa categoria.


Estudos indicam que os índices de acidente de trabalho e adoecimento cresceram, destacando-se os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort) e o desencadeamento de sofrimento psíquico, em especial, quadros de ansiedade, estresse e depressão. Desse modo, o cenário de sofrimento psíquico, associado com a precarização do trabalho e condições econômicas adversas pode relacionar-se positivamente com o incremento dos casos de suicídio.


O suicídio de trabalhadores representa o mais elevado nível de sofrimento. De acordo com Christophe Dejours, um dos princípias estudiosos sobre a temática suicídio e trabalho, o aumento de casos de suicídios relacionados ao trabalho se deve a fatores como o aumento do individualismo, a competição desmedida, a pressão constante, as avaliações de produtividade e a gestão por metas.


Muitas vezes, exclui o fator trabalho da investigação acerca dos motivos do sucídio. Contudo, os modelos de gestão adotados por grande parte das instituições financeiras, favorecem o sentimento de insegurança, medo, autoexigência e a solidão por parte dos trabalhadores. Nesse sentido, o trabalho deixa de ser um elemento coadjuvante e, torna-se protagonista do sofrimento psíquico dos bancários.


Essas novas formas de gestão desestabilizam o coletivo de trabalhadores e, com isso, reduzem a possibilidade de construir formas de transformar o cotidiano laboral em um espaço produtor de saúde.



Artigo da Professora Mestre Marselle Fernandes, psicóloga