ARTIGO – Bancos: máquinas de moer gente

115

Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará

O Bradesco lucrou em 2019 a cifra de R$ 25,887 bilhões – um aumento de 20% em relação ao exercício de 2018. Quando vemos uma instituição financeira, cujos lucros estão bem acima do que qualquer setor da economia brasileira, alcançar um desempenho dessa natureza, isso demonstra o compromisso dos funcionários para alcançar esse resultado.

Diante disso, o que se espera é que o banco valorize cada vez mais aqueles que o ajudam a manter esse patamar. Mas o que percebemos não é isso. O setor financeiro como um todo eliminou em 2019 um total de 9.463 postos de trabalho. Mais precisamente, o Bradesco está programando o fechamento de 450 agências no país em 2020 e reduziu seu quadro em 1.269 postos em doze meses. No mesmo período foram fechadas 139 agências.

Segundo o Departamento Jurídico do Sindicato, foram 40 homologações só do Bradesco de novembro do ano passado até janeiro deste ano. Dessas, foram 24 através de Plano de Demissão Voluntária, enquanto outros 13 foram sem justa causa. A maioria tinha mais de 10 anos de banco.

De forma mais específica e grave, temos recebido, através do Departamento Jurídico, a informação de diversas demissões de gerentes do Bradesco, com um perfil bem significativo: num total de 14 gerentes até o momento, estão geralmente acima dos 50 anos, prestes a adquirir, ou que já adquiriram, a “estabilidade pré-aposentadoria”, prevista na nossa CCT, alguns estão até acometidos de doença ocupacional. São gerentes que, na sua grande maioria, estiveram durante toda a sua vida funcional, contribuindo, trabalhando, para o Bradesco, e todos abordados de uma forma muito traumática, com constrangimento, desrespeito, discriminação, demonstrando que, após uma vida de dedicação à empresa, são vistos, repentinamente, como personas non grata, como pesos a serem descartados.

Há algum tempo, nós do movimento sindical temos feito a denúncia dessa prática que, infelizmente, têm se tornado rotineira nas instituições financeiras, transformando-se em verdadeiras máquinas de moer gente: sugam o máximo que podem retirar desses trabalhadores e, quando acham que não servem mais, lançam mão da rotatividade e trocam esse trabalhador, que se esforçou, se dedicou, se capacitou, se especializou, por outro mais novo e com salário menor. Ao invés de ser reconhecido pela carreira desempenhada e galgar o reconhecimento desta carreira pelo efetivo direito de aposentadoria, descansando após uma vida laboral construtiva, esse trabalhador é descartado de forma humilhante, cujo crime foi ter ficado mais velho e ter feito uma carreira. E o fim dessa máquina de moer gente é o resto do amontoado de ataques à saúde, à condição de dignidade, à condição do papel social que esse trabalhador tem para o atendimento à população.

Aos novos contratados é vendida a ideia de que isso é uma troca saudável, porque aquele que saiu não representa mais o perfil da empresa e deve ser substituído por este mais novo. Não pelo reconhecimento da aposentadoria, mas pelo tolhimento do seu emprego.  É importante destacar também que o Bradesco é um dos recordistas em reclamações nos órgãos de defesa do consumidor na questão do atendimento, por não ter pessoal suficiente para atender a demanda da população.

A defesa desses trabalhadores e de um atendimento digno à população sempre foi uma luta do Sindicato e continuará sendo sempre. Não é razoável que com o resultado econômico do Bradesco, com a atuação que a empresa tem, ela não se digne a tratar as pessoas com respeito. A nossa resposta para isso será, obviamente, muita organização, mobilização e luta e os bancários devem se atentar para a essa questão e se somar ao Sindicato, porque nós faremos pressão para forçar o banco a sentar em mesa de negociação, questionando essa postura e lutando por direitos desses trabalhadores.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here