Porque o lucro dos bancos cresce mesmo com a crise econômica durante a pandemia

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A crise econômica, agravada pela pandemia, fez com que a fome no Brasil retornasse a patamares anteriores à criação do Bolsa Família. O número de desocupados cresceu 19,7% em 2020. Em fevereiro e março deste ano, a produção industrial recuou duas vezes seguidas. Porém, nem todos os setores são atingidos igualmente. Prova disso são os balanços do 1º trimestre dos bancos Itaú, Santander e Bradesco, divulgados recentemente.

Os três maiores bancos privados do Brasil (Bradesco, Itaú e Santander) apresentaram seus balanços do 1º trimestre de 2021 com alta nos lucros em relação ao mesmo período de 2020. O lucro somado das três instituições foi de R$ 16,9 bilhões nos três primeiros meses do ano, alta média de 46,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. “É um resultado muito expressivo para um ano de pandemia e com um cenário econômico tão delicado no país”, afirmou a economista Vivian Machado, do Dieese.

O maior lucro foi o do Bradesco, (R$ 6,5 bilhões, alta de 73,6%), seguido pelo Itaú (R$ 6,4 bilhões, alta de 63,5%). O Santander foi o banco que apresentou a menor alta em seu resultado (+4,8% no período), no entanto este foi o maior lucro trimestral do banco desde 2010, totalizando R$ 4 bilhões.

Lucros incessantes – A verdade é que os bancos nunca pararam de lucrar alto. Os crescimentos divulgados para este primeiro trimestre de 2021 são comparados a números rebaixados artificialmente pelos bancos com provisões estrondosas no ano passado, já que no 1º trimestre de 2020, os bancos apresentaram resultados com grandes provisões para dívidas duvidosas (PDD) com medo de calotes.

Demissões e fechamento de agências – Mesmo com os altos lucros, os bancos continuam demitindo seus funcionários para reduzir custos. Considerando o saldo de demissões e contratações destes três bancos, houve uma redução de 8.625 postos de trabalho bancário. As demissões já causam grande prejuízo aos clientes, que têm que esperar ainda mais tempo nas já longas filas. Mas, além de demitir, os bancos estão fechando agências. Do final de março de 2020 para o final de março deste ano, o Bradesco fechou 1.088 agências, o Itaú 115 e o Santander 140 agências e 91 Postos de Atendimento Bancário (PABs). “Os bancos alegam que estão digitalizando tudo porque é interesse do cliente, mas tem muita gente que precisa da agência. Se não tivesse essa procura, as lotéricas e a Caixa Econômica não estariam sempre cheias”, afirma Vivian Machado. “Eles economizaram R$ 750 milhões em três ou quatro itens das despesas administrativas do ano passado só por conta do home office. Enquanto isso, os trabalhadores têm mais despesa com energia, com alimentação”, completa.

Despesas – Um dos fatores centrais para entender o crescimento da lucratividade é a redução das despesas, por meio do fechamento de agências e da demissão de trabalhadores. Segundo Vivian Machado, “os bancos firmaram um compromisso com os sindicatos de não demitir durante a pandemia, mas quebraram esse acordo a partir de junho”, lembra. Santander e Bradesco, por exemplo, fecharam 10.933 postos de trabalho entre março de 2020 e março de 2021. O Itaú foi o único que aumentou o número de funcionários, com 1,8 mil postos de trabalho a mais. Entretanto, a maior parte desse saldo do Itaú veio da incorporação de uma empresa de tecnologia adquirida em 2020.

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